Um grito de socorro surge das comunidades de base no Oeste Potiguar. São poetas, palhaços, cantores, dançarinos, atores de rua, artesãos, capoeiristas... Gente fazendo a vida acontecer com arte, cultura e cidadania, sem apoios necessários.
Respirando arte lutando por decência, políticas públicas de sustentação, reconhecimento constitucional, que ainda não encontramos na região. Nosso palhaço é balconista. A dançarina faxineira; as músicas de quem escuto, vêm do cantor que está na construção civil, por lá vira servente de pedreiro.
E dessa forma, nos dividimos entre atos e boatos em busca da sobrevivência, ainda que tenhamos o compromisso de mudar a rotina diária da comunidade com tempos doados a ensaios e apresentações de rua, palcos, becos e eventos massificados.
Somos nós quem pagamos bem os impostos, as roupas, a comida. Arcamos com o custo de vida. Compramos ainda nosso figurino, pagamos a costureira, tiramos um tiquinho da conta de luz pra comprar a maquiagem, ainda que seja da mais barata.
Surgem políticas nacionais e estaduais que garantem democratização de recursos pra cultura. São frágeis por serem Políticas de Governo. O caminho está correto, mesmo assim, avançaremos com mais rigor com a política de estado e com a PEC 150.
Se falarmos bem das dinastias interioranas, somos bons meninos... Idolatrados como filhos de podre, respeitador, obediente. Se reivindicarmos direitos e cobramos promessas de sonhos, somos desrespeitados pelos dignitários da soberania.
Nos municípios não existe o fortalecimento da economia solidária da cultura popular. Isso porque não dá voto, não junta grande multidão pra atrair discursos fadonhos, redundantes e idéias ultrapassadas. A cultura popular é, às vezes, um ato de rebeldia pra maioria que se acham governantes, porque não consegue a ter nas mãos.
Procuramos nosso espaço para caminhar com as próprias pernas. Quando nos juntamos, o Poder espalha, devasta aplicando Leis que civilizam os selvagens, que somos nós os filhos dos agricultores que ousam pensar, estudar, enfrentar a fúria.
Ninguém jamais vai parar a arte popular ou pegar nas mãos dos artistas que fogem da severidade, da marginalização e das garras de algum patrão. Vida que segue, luta que não morre. Nós artistas somos irreverentes e diferentes e enxergamos mais do que aqueles que só vêem o umbigo e a ponta do nariz.
Lindemberg Bezerra,
Artista popular da Cia. Ciranduís de Janduís/RN, pedagogo, militante do PT e Agente da Casa de Cultura Popular Vapor das Artes.